terça-feira, 30 de março de 2010

Filosofia Budista

O Budismo de Nitiren Daishonin


Nitiren Daishonin nasceu em 16 de fevereiro de 1222, na vila de Kominato, Província de Awa, na atual Província de Tiba. Ao contrário de Sakyamuni, que foi filho de rei, os pais de Nitiren Daishonin eram pescadores. Naquela época, os pescadores e caçadores eram desprezados porque sua sobrevivência envolvia tirar a vida. As circunstâncias de seu nascimento são muito significativas, pois indicam o princípio budista da igualdade máxima de todas as pessoas, independentemente de sua posição social ou de outros critérios superficiais.
Ele recebeu o nome de Zenniti-maro e viveu na vila de pescadores até 1233, quando, aos doze anos1, deixou o lar para estudar o budismo e outros ensinos seculares em um templo próximo de onde morava, chamado Seityo2.

Em seus estudos, percebeu várias contradições entre os ensinos budistas; também determinou encontrar uma resposta para os problemas da transitoriedade da vida humana, com a qual estava profundamente preocupado. Nessa época, orava diante de uma estátua do Bodhisattva Kokuzo (Repositório do Espaço) consagrada no templo Seityo para se tornar o homem mais sábio do Japão. Graças a essas orações, obteve uma “jóia da sabedoria” que posteriormente possibilitou-lhe compreender a essência de todos os sutras. Após muito estudo e contemplação, compreendeu a natureza da realidade máxima da vida e do Universo. Considerando seu despertar como ponto de partida, determinou prosseguir nos estudos para apresentar suas idéias de forma sistemática.

Em 1237, tornou-se sacerdote budista e adotou o nome Zesho-bo Rentyo. Em 1242, após ter passado alguns anos em Kamakura — o centro do governo japonês na época — para dar prosseguimento aos seus estudos, retornou para o templo Seityo. Sentindo uma urgente necessidade de continuar os estudos, no mesmo ano partiu para Quioto e Nara, os dois centros do budismo tradicional no Japão. Permaneceu ali até 1253, quando sentiu ter descoberto o que buscava havia tanto tempo: provas documentais irrefutáveis de que as doutrinas de várias seitas não se baseiam de fato nos ensinos do fundador do budismo e que os verdadeiros ensinos do budismo são encontrados apenas no Sutra de Lótus.

Retornando ao templo Seityo, convicto de que havia chegado a época de revelar suas descobertas aos outros, Nitiren recitou o Nam--myoho-rengue-kyo pela primeira vez na manhã de 28 de abril de 1253 — apresentando dessa forma a toda a humanidade, a todas as gerações vindouras, o caminho direto para a iluminação. Ele declarou então que nenhum dos ensinos pré-Sutra de Lótus revelavam a iluminação do Buda e que todas as seitas budistas que se baseavam nesses ensinos eram desencaminhadoras. Adotou também o nome Nitiren.

Niti, de Nitiren, significa o sol ou a luz lançada pela sabedoria de Nitiren Daishonin a todo o mundo para eliminar a obscuridão que aflige a humanidade. Ren significa lótus e indica que Nitiren Daishonin apareceu no mundo corrupto e dominado pela discórdia para fazer com que as belas e puras flores da sabedoria e da cultura desabrochassem no coração perturbado de todas as pessoas. Ren também significa a lei de causa e efeito que atua nas profundezas da vida. E faz parte do título do Sutra de Lótus, Myoho-rengue-kyo.

Tendo fundado os verdadeiros ensinos do budismo e iniciado sua propagação, Daishonin encontrou as mais duras perseguições, tanto das seitas budistas populares daquela época como das autoridades governamentais, que protegiam essas seitas e confiavam em suas orações para que findassem os contínuos desastres naturais que ocorriam naquele período.

Nitiren Daishonin passou mais de duas décadas ensinando às pessoas sobre o budismo e advertindo o governo — para que os líderes levassem a paz à nação aceitando os verdadeiros ensinos do budismo. Durante esse período, ele sobreviveu a dois exílios, uma tentativa de execução, uma emboscada e numerosas tentativas de colocarem-no em descrédito. Por fim, em 12 de maio de 1274, Nitiren Daishonin deixou Kamakura e partiu para um local remoto no Monte Minobu onde deu continuidade ao estágio final de suas atividades.

Nesse local, Nitiren Daishonin inscreveu em 1279 o Daiohonzon — o objeto de devoção para toda a humanidade. Já nessa época, havia discípulos e seguidores desejando arriscar a vida para abraçarem e propagarem o Nam-myoho-rengue-kyo. Ele estava convicto de que aqueles crentes decididos protegeriam seu ensino para toda a posteridade.

Três anos depois, na manhã do dia 13 de outubro de 1282, Nitiren Daishonin faleceu pacificamente na residência de um seguidor onde hoje se localiza a cidade de Tóquio.

Podemos definir seu papel na corrente do pensamento e da história budista da seguinte forma: Nitiren Daishonin foi o Buda que despertou para a verdade suprema da vida desde o infinito passado; isso aconteceu em um passado incalculavelmente distante antes de o Buda Sakyamuni ter atingido sua iluminação no passado longínquo chamado Gohyaku-Jintengo. Nitiren Daishonin definiu essa verdade como Nam-myoho-rengue-kyo e incorporou-a no Gohonzon.

O Sutra de Lótus prediz que quando chegassem os Últimos Dias da Lei, os Bodhisattvas da Terra apareceriam para levar a salvação a toda a humanidade. Jogyo, o líder desses Bodhisattvas, é Nitiren Daishonin.

Por ter atingido a iluminação por si só — com sua própria compreensão — e por ter revelado a verdade fundamental da vida, Nitiren Daishonin é chamado de Buda original. E pelo fato de ter manifestado a benevolência própria a um bodhisattva ao propagar o ensino máximo do budismo na sociedade, levando as pessoas à iluminação, ele é identificado como Bodhisattva Jogyo.

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1) De acordo com o tradicional sistema japonês de cálculo de idade, o bebê, quando nasce, já tem um ano de idade, acrescentando-se um ano a sua idade a cada dia de Ano-Novo. Assim, quando Nitiren Daishonin entrou para o templo, ele tinha na verdade apenas onze anos.
2) Em muitas publicações lemos templo Seityoji. “Ji” significa templo. Nesta publicação optamos por utilizar a terminologia templo Seityo.


Conceitos gerais sobre filosofia budista


O que é budismo? O Sutra de Lótus dá a resposta mais clara possível — é uma filosofia de vida. Mais especificamente, o budismo ensina como purificar a vida, desenvolver a sabedoria para compreender a verdade da vida e a estabelecer a verdadeira independência.

No milênio que se seguiu à morte do Buda Sakyamuni, seus ensinos foram registrados e transmitidos, dando surgimento a uma confusa série de sutras. Porém, quando se reconhece que o Sutra de Lótus é o âmago de todos eles, compreende-se que juntos formam o que é na verdade uma volumosa elucidação da filosofia da vida. No entanto, os sutras budistas apresentam individualmente muitos mistérios aparentes. Alguns propõem, por exemplo, regras de disciplina monástica que traçam rigorosamente como deve ser o comportamento correto ao passo que outros contam histórias de um passado inimaginavelmente distante como se tivessem acontecido ontem. De acordo com alguns sutras, incontáveis budas e bodhisattvas do distante passado, e também dos confins do Universo, reúnem-se onde Sakyamuni está expondo seus ensinos aos seus discípulos.
Outros também descrevem um certo mundo que fica a dez milhões de anos luz da Terra de forma tão clara como se fosse projetado em uma tela, ou sustentam que um bodhisattva foi às entranhas da terra para ver sua mãe em uma existência passada. Muitas outras parábolas e acontecimentos inconcebíveis são descritos nos sutras. O grande número de escrituras budistas pregadas por Sakyamuni são cheias de mistérios, como se fossem uma grande selva sem trilhas.

Vagando por essa densa floresta das doutrinas budistas, muitos adeptos ficaram completamente confusos. Eles eram forçados a escolherem um sutra, apesar de terem apenas uma informação parcial e não soubessem exatamente onde estavam ou para onde iam. É por isso que surgiu um grande número de interpretações conflitantes e escolas à mesma época em que os ensinos de Sakyamuni se propagaram na Índia, no Tibete, na China, no Japão, em Mianmar e na Tailândia — todos os países que tiveram contato com o budismo.

No entanto, o próprio Sakyamuni deixou uma indicação para conduzir as pessoas às suas verdadeiras intenções. No Sutra de Lótus e em seu prólogo, o Sutra Muryogui (Sutra dos Infinitos Significados), consta que o Sutra de Lótus revela a verdade máxima da iluminação de Sakyamuni e que é o mais supremo de todos os seus ensinos. Todavia, muitas pessoas desprezavam isso cheias de indiferença, ou talvez por não terem conhecimento, e em conseqüência perdiam-se no meio do caminho.

Em vários períodos da história, eruditos budistas, tais como Nagarjuna, Vasubandhu, Tient’ai e Dengyo, compreenderam que o Sutra de Lótus é o mais profundo de todos os ensinos de Sakyamuni. Eles descobriram que o Sutra de Lótus dava significado a todos os outros. Ele integra as verdades parciais em uma imagem global e todas as doutrinas de Sakyamuni em um sistema filosófico de grande alcance. É isso o que se chama filosofia da vida.

O que então Sakyamuni quis transmitir com o Sutra de Lótus? Sua iluminação foi a compreensão da única verdade subjacente a toda vida. Não apenas Sakyamuni, mas também Sharihotsu, Mahakashyapa e outros discípulos também atingiram a iluminação por meio dessa verdade. Ela foi, e sempre será o único caminho para a iluminação para todos os budas no Universo. Em resumo, as pessoas podem atingir o estado de Buda apenas compreendendo a existência dessa verdade.

Essa verdade é a Lei eterna que existe nas mudanças fenomenais no Universo e permeia a vastidão ilimitada do espaço. É também a Lei fundamental que opera nas profundezas de cada vida. A vida tem uma variedade infinita de manifestações e funções, mas a entidade da Lei da vida permeia todos os fenômenos. As outras escrituras budistas, excetuando-se o Sutra de Lótus, são apenas parciais e dão explicações relativas da Lei fundamental da vida.

O budismo classifica em dez categorias ou estados de existência as condições sempre mutáveis da vida. Este conceito é chamado de Dez Estados da Vida. O Inferno é o estado em que as pessoas são dominadas pelo impulso de destruir e de arruinar a todos, incluindo a si próprias. A Fome é o estado do desejo insaciável, e no estado de Animalidade as ações são direcionadas para a autoconservação e o benefício imediato, faltando qualquer autocontrole. Quando uma pessoa é egoísta e impelida pelo espírito competitivo de dominar, ela está no estado de Ira.

O próximo, Tranqüilidade, é um estado sereno no qual as pessoas controlam seus desejos ou impulsos por meio da razão, e o estado de Alegria é a felicidade que se experimenta da satisfação de um desejo ou de uma luta vitoriosa. Ambos surgem da relação entre a vida e os fatores externos que a rodeiam. Por essa razão, quando o equilíbrio da vida é perturbado, a tranqüilidade e o contentamento inevitavelmente se afundam no estado de Inferno, Fome, Animalidade ou Ira.

A função do budismo é despertar nas pessoas a realidade máxima da vida que se encontra sob os desejos e impulsos para que possam manter conscientemente o equilíbrio na vida. Em alguns casos, as pessoas compreendem essa realidade por meio dos ensinos de seus antecessores e em outros tentam compreendê-la intuitivamente pela observação dos fenômenos naturais. O estado de vida do primeiro grupo é chamado Erudição, e o do segundo, Absorção.

A Erudição e a Absorção surgem quando a pessoa tenta conscientemente compreender a verdade máxima da vida. No entanto, se os esforços forem direcionados apenas para o auto-aprimoramento, qualquer verdade obtida nunca deixará de ser apenas parcial. Cada forma de vida está inseparavelmente ligada a todos os outros seres e coisas no Universo porque a realidade máxima da vida que sustentam todas elas é una com a vida do Universo. Conseqüentemente, na tentativa de obter uma visão completa e global da verdade da vida, as pessoas devem compreender primeiro que elas não podem existir separadamente dos outros seres vivos e depois devem se identificar com as dores dos outros a ponto de empenharem-se totalmente para atenuarem os sofrimentos daqueles que estão ao seu redor. O nono estado, Bodhisattva, é a expressão da total devoção em ajudar e apoiar os outros e indica uma vida cheia de compaixão. O mais elevado de todos, o estado de Buda, é alcançado quando a pessoa tem sabedoria para compreender a essência da própria vida e da dos outros, que continua em perfeita harmonia com o ritmo do Universo e existe desde o infinito passado até o eterno futuro.

Os outros sutras consideravam os Dez Estados como separados e independentes um do outro, como partes de um todo sem correlação. Não havia uma explicação sistemática dos Dez Estados. Em contraste, graças ao Sutra de Lótus pode-se compreender que cada um dos Dez Estados inclui os outros estados e que uma pessoa tem o potencial para manifestar todos os Dez Estados. Além disso, uma lei universal regula seus aspectos mutáveis. Essa lei, os Dez Fatores da Vida, aplica-se em qualquer momento aos Dez Estados e é comum a cada entidade de vida. Os Dez Fatores são mencionados no 20 capítulo do Sutra de Lótus, Hoben (Meios), e consistem de Aparência, Natureza, Entidade, Poder, Influência, Causa Interna, Relação, Efeito Latente, Efeito Manifesto e Consistência do Início ao Fim de todos os nove fatores. Enquanto os Dez Estados expressam as diferenças entre os fenômenos da vida, os Dez Fatores descrevem o modelo de existência comum a todos os fenômenos mutáveis.

A vida se manifesta de maneiras diversas e dessa forma revela seu caráter distintivo. Pelo fato de cada forma de vida ter suas próprias qualidades únicas, os dois conceitos dos Dez Estados e dos Dez Fatores não são suficientes para compreender a vida em sua totalidade. Os Três Domínios da Individualização da Vida, que são também expostos no Sutra de Lótus, são necessários para uma total expressão da vida. Eles são Os Cinco Componentes, o Ambiente Social e o Ambiente Natural. No Ambiente Natural, como o ar, a terra, o mar, os rios e os raios do sol, os seres vivos de uma espécie em particular ajudam-se uns aos outros e cooperam com outras formas de vida na luta pela sobrevivência. À medida que crescem, os seres vivos influenciam e incorporam o ambiente ao seu redor tanto física como espiritualmente. Eles adquirem distinções de acordo com as peculiaridades de seu ambiente. A teoria dos Três Domínios foi exposta para uma análise e compreensão da individualização da vida.

As doutrinas anteriores, reveladas pelos sutras de Sakyamuni, nem sempre são escritas em linguagem clara o bastante para que todas as pessoas compreendam. Foi preciso um filósofo e mestre do budismo tal como o Grande Mestre Tient’ai (Chih-i) da China para compreender esses princípios por meio de um amplo estudo e um profundo discernimento para depois incorporá-los no sistema de filosofia que foi chamado de Itinen Sanzen (Três Mil Mundos em Um Único Momento da Vida).

Suas realizações tiveram grande influência sobre o pensamento budista na China e no Japão. No entanto, o Budismo de Tient’ai era muito difícil de ser transmitido para a maioria das pessoas. Para compreendê-lo, era preciso uma inteligência incomum e também um conhecimento geral das escrituras budistas e de teorias formuladas por eruditos tais como Nagarjuna. Em conseqüência disso, a filosofia de Tient’ai, apesar de revelar profundamente o significado da vida, despertou pouco interesse no budismo por parte das pessoas.

Muitas pessoas, incluindo até mesmo os monges sábios, ficaram confusas com as doutrinas alegóricas que descreviam os poderes ocultos dos budas e bodhisattvas. Eles ficaram tão desorientados que apenas podiam considerar o budismo com uma reverência cega. Alguns criaram esperanças de salvação por meio de complicados rituais esotéricos budistas. Para eles, o budismo era um barco para tirá-los completamente das duras realidades dos sofrimentos mundanos e levá-los para além das praias do nirvana.

Os verdadeiros ensinos do budismo, no entanto, não são escapistas nem relativos ao além-túmulo. Um conceito fundamental é a idéia de que compreendendo a verdade máxima inerente em nossa própria vida podemos atuar destemida e vigorosamente e compreender ao mesmo tempo que toda vida, incluindo a nossa, é sagrada. É lamentável que esse espírito fundamental tenha-se perdido em uma fraseologia confusa. Mesmo hoje ele continua obscuro para a grande maioria das pessoas em todo o mundo.

Nitiren Daishonin, que nasceu no Japão em 1222, expressou de forma concreta e prática a filosofia budista que Sakyamuni ensinou e Tient’ai iluminou. Ela foi portanto colocada na berlinda e tornou-se relevante para a vida diária das pessoas. Sua realização foi como a de alguém que apresenta uma complexa teoria científica em aplicações práticas. Foi como uma obra de arte que exprime o nobre espírito do artista e a filosofia de sua época, dando-lhe o poder de afetar diretamente e comover as pessoas que a encontram.

A origem dos sutras


Sakyamuni atingiu a iluminação aos trinta anos de idade e expôs vários nobres ensinos de acordo com a capacidade e compreensão das pessoas. Continuou propagando seus ensinos por cinqüenta anos e faleceu quando estava com oitenta anos. Porém, seus ensinos não haviam formado um completo sistema filosófico. Consistiam na sabedoria de vida e nas atitudes na fé expostos de acordo com as necessidades de seus discípulos. A iluminação de Sakyamuni para a verdade suprema certamente é a base da totalidade de seus ensinamentos. Contudo, uma vez que ele percebeu que essa verdade não podia ser expressa, ele decidiu não expô-la.

Após o falecimento de Sakyamuni, seus ensinos foram transmitidos oralmente por seus discípulos e, aproximadamente cem anos mais tarde, esses ensinos foram reunidos e organizados de acordo com o conteúdo. Entretanto, muitos dos ensinos orais ficaram sem ser registrados. Alguns séculos mais tarde, o cânon que havia sido memorizado foi recitado a fim de que os outros ensinos orais que não haviam sido registrados fossem incluídos e também para que a totalidade dos ensinos fosse mantida intacta. Segundo a tradição budista, pouco tempo após a morte do Buda Sakyamuni, o Primeiro Conselho da Ordem Budista foi realizado com o objetivo de preservar os ensinos do Buda. Cem anos mais tarde, o Segundo Conselho foi realizado, e duzentos anos depois, o rei Asoka promoveu o Terceiro Conselho da Ordem Budista. Quatrocentos anos após a morte do Buda foi realizado o Quarto Conselho sob o apoio do rei Kanishka. Embora seja difícil determinar a data exata em que os conselhos da Ordem Budista foram realizados, a tradição budista segue a essa cronologia. É bem possível que os ensinos de Sakyamuni não tenham registrados na forma de sutra até muito tempo depois de sua morte.

Antes de tudo, os preceitos existiam a fim de manter a disciplina nas ordens monásticas. Conseqüentemente, os sutras Hinayana, que tinham como fundamento os preceitos, foram provavelmente registrados antes da maioria dos outros ensinos existentes até então. Mais tarde, os outros ensinamentos do Buda, livres de preceitos complicados, foram propagados para os praticantes leigos. A necessidade de compilar os ensinos de Sakyamuni tornou-se cada vez maior e, naquela época, os sutras Mahayana foram então registrados. Embora seja difícil determinar a data exata em que os sutras foram compilados, sabe-se que esse evento ocorreu certo tempo após a morte de Sakyamuni. Além disso, não se sabe quando exatamente os ensinos de Sakyamuni sobre a verdade suprema foram compilados na forma do Sutra de Lótus. Nitiren Daishonin afirma, em seus escritos, que o Sutra de Lótus apareceu imediatamente após o falecimento de Sakyamuni, e isso parece plausível. A magnífica Cerimônia no Ar é descrita no Sutra de Lótus como a indicação da iluminação de Sakyamuni, a Lei Mística praticamente inexprimível. Embora o conteúdo do sutra seja extremamente difícil e profundo de compreender, na fase inicial da compilação e da confirmação dos ensinos do Buda, o Sutra de Lótus deve ter sido considerado principalmente como o ensino que capacita todas as pessoas a atingir a iluminação.

Linhagem do Budismo - Mahayana e Hinayana


O budismo originou-se na Índia e lá se dividiu em duas principais correntes. Uma delas seguiu o caminho até o atual Sri Lanka, Mainmá, Tailândia e Indonésia, ao passo que a outra corrente se espalhou do Hindu Kush à Ásia Central e então para a China, a Península Coreana e o Japão. A primeira corrente foi denominada Hinayana, e a segunda, Mahayana.

De acordo com as doutrinas Hinayana, os sofrimentos são causados pelos desejos e egoísmo inerentes na vida humana. A fim de erradicar os sofrimentos, os ensinos Hinayana pregam que as pessoas devem extinguir todos os seus desejos. Por isso, aqueles que seguem os ensinos Hinayana têm como objetivo o estado de completo vazio, e esse ideal é o nirvana. Contudo, extinguir os desejos significa extinguir a própria existência neste mundo, pois o desejo é uma parte intrínseca da vida humana.

Ambas as escolas filosóficas acreditam que os desejos mundanos, o egoísmo e outros são a causa dos sofrimentos. Nesse sentido, não há diferença entre o Budismo Hinayana e o Mahayana. Entretanto, o ensino Mahayana nega a prática de extinguir os desejos. Em vez disso, encoraja as pessoas a manifestar em seu interior a vida universal de forma que sejam capazes de controlar os desejos e direcioná-los positivamente. Dessa maneira, os sofrimentos são erradicados. Nesse ponto, o Budismo Mahayana difere decisivamente do Hinayana.

Os ensinos do Budismo Mahayana são subdivididos em duas partes. A primeira parte ensina que as pessoas devem acreditar em um ser transcendental. Essa crença está contida na divisão conhecida como Mahayana provisório, ou ensinos expostos antes do Sutra de Lótus. A idéia de um ser transcendental no Mahayana provisório possui certa semelhança com as idéias do cristianismo ou do islamismo; porém, ainda assim são diferentes. O Mahayana provisório ensina que o Buda da perfeita iluminação existe em um paraíso distante em outra parte do Universo e que os seguidores poderão ir para o lugar onde está o ser transcendental após morrerem. No cristianismo e no islamismo, o ser supremo, que transcende as dimensões deste mundo fenomenal, controla e governa esse Universo.

Em contraposição a um ser transcendental, a outra divisão do Budismo Mahayana, que consiste do Sutra de Lótus, identifica um ser universal que existe simultaneamente inerente na própria vida, neste mundo fenomenal e no Universo todo. No cristianismo e nos ensinos pré-Sutra de Lótus, esse ser universal, ou realidade suprema, é visualizado em termos de uma “personalidade”. Porém, o Sutra de Lótus considera essa realidade como uma “lei” que governa tudo. Nitiren Daishonin identifica essa lei como Nam-myoho-rengue-kyo.

Se os seguidores são leais aos ensinos do Budismo Hinayana e agem de acordo, eles têm de negar a própria existência neste mundo. Até as pessoas que praticam os ensinos do Budismo Mahayana provisório certamente tentarão escapar da vida diária e da sociedade em vez de fazer parte dessa realidade. Em contraste, o Sutra de Lótus, conforme a interpretação de Nitiren Daishonin, estabeleceu o caminho para desafiar os sofrimentos e problemas da sociedade a fim de reformar este mundo repleto de tormentas, não por meio da fuga, mas por meio da convivência positiva em meio às pessoas. Os ensinos do Sutra de Lótus mostram o caminho para que as pessoas possam se libertar do egoísmo e da arrogância e também o caminho para a genuína realização humana fundamentada no ser universal.

Origem


A essência da filosofia da SGI baseia-se no conceito de "revolução humana", em que, por meio da reforma interior, o indivíduo torna-se capaz de desenvolver a sabedoria para compreender a relação que possui com o meio em que vive. A partir desta compreensão, ele gera condições para a transformação de seu destino, além de contribuir para a criação de um mundo mais pacífico. Este enfoque filosófico origina-se nos históricos ensinos do Buda Sakyamuni, o fundador do budismo.

Buda Sakyamuni


Sakyamuni viveu na Índia há aproximadamente dois mil e quinhentos anos. Em sua juventude, conhecido como Siddhartha Gautama, dedicou-se a encontrar uma solução para o sofrimento fundamental da existência humana. Durante cinqüenta anos, ensinou aos seus discípulos como atingir o "estado de Buda", uma condição de vida caracterizada por uma total liberdade interior, sabedoria ilimitada, compaixão e benevolência infinitas. Este ensino está contido no Sutra de Lótus. Sakyamuni afirma que a vida cotidiana nos oferece a oportunidade para realizarmos uma reforma interior e assim manifestar esse imenso potencial inerente a ela. Revela também que todo indivíduo, sem nenhuma distinção de classe social, econômica ou nível educacional, pode manifestar o "estado de Buda".


Fragmento
do sutra de Lótus.
Expansão do Budismo



Com o passar dos anos, esses ensinos foram propagados por toda a Índia e pelo continente asiático, chegando ao Japão no século VI. Neste país durante alguns anos os ensinos eram inacessíveis às pessoas comuns devido ao regime da época. Com o declínio da aristocracia, novas formas mais populares de budismo começaram a surgir. Uma delas foi o budismo fundado por Nitiren Daishonin, que viveu no Japão de 1222 a 1282. Este budismo reconhece e enfatiza a supremacia do Sutra de Lótus sobre os outros ensinos budistas.

Buda Nitiren Daishonin

Filho de pescador, Nitiren Daishonin ingressou no sacerdócio. Depois de um período de intensos estudos, chegou à conclusão de que todas as pessoas podem manifestar seu máximo potencial por meio de seus próprios esforços. De acordo com seus ensinos, todo o Universo é regido por um único princípio ou lei. Ao entender essa lei, o indivíduo pode descobrir esse potencial oculto em sua própria vida e obter uma harmonia criativa com o meio ambiente.

O significado da felicidade


Quando as necessidades ou desejos de uma pessoa são realizados, ela sente felicidade, mas a simples realização dos desejos não pode sustentar este sentimento de felicidade. Mesmo apesar de não estar totalmente satisfeita com sua vida atual, pode sentir que é mais feliz do que antes. Porém, ninguém é continuamente feliz. Por melhor que seja a situação, há também momentos ruins.

Tal felicidade é essencialmente relativa. Uma felicidade mais profunda e duradoura não depende do objeto do desejo ou da necessidade, nem do próprio passado, nem da vida do vizinho, tampouco de qualquer outro fator externo. O principal ingrediente para essa felicidade encontra-se na própria vida. A felicidade está diretamente relacionada ao grau em que se pode extrair a própria força vital e à esperança no futuro. De maneira contrária, se uma pessoa não tem essas qualidades, ela compara o seu presente com o passado ou com o seu ambiente. A felicidade por comparação é, na verdadeira essência do termo, a “felicidade relativa”.

Para compreender a diferença que pode fazer a própria força vital, imaginemos dois alpinistas. Escalar um pico escarpado infligiria uma dor insuportável a uma pessoa comum, mas pode proporcionar um prazer inesquecível a um alpinista. Quanto mais alto, escarpado e difícil for o penhasco, maior a alegria e satisfação de desafiá-lo e conquistá-lo. As dificuldades na vida são como uma montanha escarpada. Se a pessoa encontra a felicidade apenas no conforto, evitará muito do que vale a pena na vida. Tal atitude é essencialmente negativista e escapista. Quando chegamos a tal ponto, o conforto é um período de descanso e não é acompanhado por uma grande dor nem por uma profunda alegria.

Todas as atividades humanas objetivam a felicidade. O budismo, assim como as outras religiões, ensina às pessoas como viver para conquistarem uma vida feliz. No entanto, muitas religiões encorajam seus crentes a orarem para que algo místico, uma força transcendental, elimine os problemas da vida. Então, se as pessoas são religiosas ou não, também tentam com freqüencia evitar as dificuldades e os problemas. O budismo mostra o caminho para uma nova vitalidade e uma profunda sabedoria, ensinando que os seres humanos devem inspirar-se a desafiar, e não a evitar, quaisquer dificuldades que enfrentarem e transformá-las em felicidade com o desenvolvimento de sua própria força vital. Superar o sofrimento em vez de fugir dele é uma atitude criativa de desafio e coragem, e é essa atitude que leva à felicidade absoluta.

A lei da causalidade


O budismo ensina que a felicidade humana baseia-se na Lei de Causa e Efeito. Diferentemente do conceito de causalidade nas ciências naturais e sociais, o princípio budista de causa e efeito considera em primeiro lugar a vida da pessoa.

Suponhamos que um aluno estude bastante para um exame e passe com notas altas. O estudo aplicado é a causa e ser aprovado, o efeito. Mas há sempre algum meio que liga a causa ao efeito, e neste caso o meio é o ato de prestar o exame. Tal meio funciona de duas formas: produz um efeito e contribui para formar uma nova causa. No entanto, a mesma quantidade de esforço não necessariamente leva aos mesmos resultados. Alguns estudantes têm naturalmente boa memória, ao passo que outros tendem a esquecer as coisas rapidamente. A questão mais importante é o que produz essas diferenças entre os indivíduos. O budismo atribui a causa ao modo de vida nas existências anteriores. A individualidade e as habilidades naturais são os efeitos das causas realizadas em existências anteriores.

Neste sentido, o budismo é muito diferente da doutrina de algumas religiões ocidentais que sustentam que um ser transcendental predetermina o curso de vida das pessoas neste mundo. O budismo afirma que cada indivíduo é responsável por seu próprio destino e tem ao mesmo tempo a prerrogativa para mudá-lo para melhor e desenvolver seu caráter no futuro. Isso significa que a pessoa com memória fraca não tem de se resignar ao seu destino. Se sabe de seu ponto fraco, pode iniciar os preparativos para um teste bem antes dos outros para que possa memorizar completa e eficazmente as matérias. Assim, poderá superar sua desvantagem. Em vez de depender de sua memória fraca, pode compensá-la aumentando sua compreensão. Estando ciente de seus próprios potenciais, fraquezas e inclinações, é possível desenvolver os pontos fortes e melhorar os fracos. Esta é a maneira correta de superar as limitações do destino. Mesmo assim, deve-se ter força suficiente para desfrutar a liberdade fazendo com que a Lei de Causa e Efeito atue em benefício próprio.

Nitiren Daishonin elucidou a forma de aumentar a própria energia vital e sabedoria para poder atingir a liberdade que está muito além do que se pode atingir apenas com um esforço consciente. Uma vez que o destino é o produto, ou o efeito, dos esforços passados determinados pela lei da causalidade, não se pode evitar seus efeitos. Contudo, a pessoa não deve se resignar. Se permanecer firme no leito do rio da vida, a Lei Mística, que é a entidade da vida, e não apenas as torrentes do carma, ou destino, podem conduzi-lo. Estabelecendo uma base inabalável, pode-se obter a liberdade de agir de acordo com a própria vontade.

Fatalismo e liberdade


Algumas pessoas sustentam que as questões humanas são completamente predeterminadas, uma maneira de pensar considerada como fatalista. Por razões semelhantes, o conceito budista de causalidade é algumas vezes criticado como fatalista. Se a vida de uma pessoa neste mundo é predestinada em conseqüência das causas passadas, e se seu futuro é determinado pelo carma limitado da vida presente, onde ela poderá encontrar a liberdade e que significado pode buscar na vida?

Um exemplo típico de fatalismo pode ser encontrado em alguns ensinos pré-Sutra de Lótus. Esses ensinos afirmam que a única salvação encontra-se na vida após a morte. Por exemplo, diziam que se uma pessoa acreditasse e confiasse na graça de um Buda tal como Amida, conseguiria se libertar dos grilhões deste mundo e renasceria na Terra Pura da Perfeita Alegria. Mas não existe sustentação racional para tal crença. A liberdade não se encontra com a fuga da causalidade, mas sim transformando-a para nossa própria vantagem.

Ninguém pode escapar da lei da causalidade, mas os seres humanos podem aprender como ela funciona e utilizarem-na. Em toda a história, os indivíduos descobriram e colocaram em prática várias leis da natureza, tais como a lei da gravidade e a teoria da relatividade. A gravidade pode ser considerada como uma força que mantém as pessoas presas à terra, mas pode ser também vista como uma força que torna possível a liberdade de se locomover sobre a terra, no mar e no ar.

Sakyamuni declara: “Se deseja compreender as causas que existiram no passado, observe os resultados que elas manifestam no presente. E se quiser saber que resultados serão manifestados no futuro, observe as causas presentes.” Existe, então, a absoluta possibilidade de transformar o futuro com os esforços presentes. Mas o que pode ser feito a respeito das causas já formadas no passado? A personalidade, o caráter e o destino são todos conseqüências do que a pessoa era e do que fez no passado. No Sutra de Lótus, Sakyamuni direcionou as pessoas para uma fonte de força que podia romper as correntes das forças cármicas, mas ele não a identificou especificamente. Foi Nitiren Daishonin que explicou a entidade da vida, em oposição ao fenômeno da vida, e como ela permanece livre das influências cármicas por toda a eternidade. Essa entidade ou Lei da vida, que ele chamou Nam-myoho-rengue-kyo, é a causa que capacita a superar toda a inércia cármica e permite que novos efeitos surjam da vida de cada ser humano. A luta para vencer a inércia cármica das más causas criadas desde épocas passadas é naturalmente muito difícil e requer um esforço vitalício. Porém, o fato de essa luta certamente resultar em vitória dissipa os sentimentos de fatalismo e faz surgir a esperança em um futuro brilhante.

A palavra rengue (literalmente, flor de lótus), de Nam-myoho-rengue-kyo, simboliza o princípio de que a causa e o efeito existem simultaneamente em um único momento da vida. Conseqüentemente, isso significa que a determinação de uma pessoa no presente determinará o futuro, ou o efeito pelo qual ela está se empenhando. A determinação de uma pessoa é forte o bastante para mudar seu destino? O poder da determinação opera nos níveis conscientes da psique humana ao passo que o carma existe nos níveis inconscientes, ou ainda mais profundamente. Evidentemente, a humanidade necessita de alguma força que possa alterar o ritmo da própria vida, e essa força é e sempre foi o Nam-myoho-rengue-kyo. Cientes dessa poderosa chave para essa inesgotável e inerente força vital dos seres humanos, as pessoas ficam confiantes de que podem fazer causas para libertarem-se completamente de seu carma negativo. Com essa chave, tudo o que resta é extrair a energia vital do Nam-myoho-rengue-kyo das profundezas de sua própria vida. Isso é possível com uma firme e sincera recitação de Daimoku ao Gohonzon, a incorporação do Nam-myoho-rengue-kyo.

Os dez estados da vida


Os Dez Estados (Jikkai) indicam os dez estados que uma única entidade de vida manifesta com o passar do tempo. O fator principal na condição essencial dos Dez Estados é a sensação subjetiva experimentada pelo “eu” nas profundezas da vida.

1. Estado de Inferno (Jigoku): Na escritura “O Objeto de Devoção para a Observar a Mente Estabelecido no Quinto Período de Quinhentos Anos Após o Falecimento do Buda”, Nitiren Daishonin diz: “A raiva é o estado de Inferno.”(The Major Writings of Nichiren Daishonin [MW], vol. 1, pág. 52.) Essa é uma condição em que a pessoa, dominada pelo impulso da raiva, é levada a destruir e criar a ruína para si e para os outros. Resumindo, esse estado é representado pelo sofrimento e desespero extremos.

2. Estado de Fome (Gaki): Consta na mesma escritura: “A ganância é o estado de Fome.” Essa condição é dominada por desejos egoístas e ilimitados de riqueza, fama e prazer, os quais nunca são realmente satisfeitos.

3. Estado de Animalidade (Tikusho): Essa escritura diz ainda: “A insensatez é o estado de Animalidade.” Nesse estado, segue-se a força dos desejos e dos instintos, sem ter sabedoria para controlar a si próprio.

4. Estado de Ira (Shura): “A maldade é o estado de Ira.” Estando consciente de seu próprio “eu” mas sendo egoísta, a pessoa não consegue compreender as coisas como são exatamente e menospreza e viola a dignidade dos outros.

5. Estado de Tranqüilidade (Nin): Na escritura “O Objeto de Devoção para a Observar a Mente Estabelecido no Quinto Período de Quinhentos Anos Após o Falecimento do Buda” consta: “A serenidade é o estado de Tranqüilidade.” Esse é o estado em que se consegue controlar temporariamente os próprios desejos e impulsos fazendo uso da razão, levando uma vida pacífica em harmonia com o meio ambiente e com as outras pessoas.

6. Estado de Alegria (Ten): “A felicidade é o mundo da Alegria.” É uma condição de contentamento e alegria sentidos quando a pessoa se liberta do sofrimento ou satisfaz algum desejo.

7. Estado de Erudição (Shomon): Os seis estados, do Inferno à Alegria, são manifestados por meio de impulsos ou desejos, mas são totalmente controlados pelas restrições impostas pelo ambiente e são também extremamente vulneráveis às circunstâncias instáveis. Por outro lado, o estado de Erudição é uma condição experimentada quando se empenha para conquistar um estado de contentamento e de estabilidade duradouro por meio da auto-reforma e do desenvolvimento. De forma concreta, Shomon é o estado no qual a pessoa dedica-se a criar uma vida melhor pelo aprendizado das idéias, conhecimento e experiências dos predecessores e contemporâneos.

8. Estado de Absorção (Engaku): Esta condição é semelhante ao estado de Erudição, uma vez que ambos indicam o empenho para a auto-reforma4. No entanto, o que distingue o estado de Aborção do estado de Erudição é que em vez de tentar aprender das realizações dos predecessores, tenta-se aprender o caminho para a auto-reforma por meio da observação direta dos fenômenos.

9. Estado de Bodhisattva (Bosatsu): Estado de compaixão em que um indivíduo devota-se à felicidade dos outros mesmo que tenha de fazer sacrifícios. As pessoas dos estados de Erudição e Absorção tendem a carecer de compaixão, chegando a extremos na busca de sua própria perfeição. Em contraste, um bodhisattva descobre que o caminho para a auto-perfeição encontra-se unicamente no ato de compaixão — de salvar as outras pessoas do sofrimento.

10. Estado de Buda (Butsu): Essa condição é alcançada quando se obtém a sabedoria para compreender a realidade máxima da própria vida, a infinita compaixão para direcionar constantemente as atividades para objetivos benevolentes, o eu eterno perfeito e a total pureza da vida que nada pode corromper. O estado de Buda é o estado ideal que pode ser atingido por meio da prática budista. Já que nenhum estado de vida é estático, não se pode considerar o estado de Buda como um objetivo final; ao contrário, essa é uma condição experimentada nas profundezas do próprio ser ao se empenhar continuamente com benevolência na vida diária. Em outras palavras, o estado de Buda aparece na vida diária como as ações de um bodhisattva — boas ações ou atos benevolentes5.


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4) O tratado diz: “É perfeitamente claro para nós o fato de todos os seres deste mundo serem transitórios.” (MW, vol. I, págs. 52-53.) Essa declaração caracteriza tanto o estado de Erudição como o de Absorção em que a pessoa tenta buscar algo eterno despertando para a impermanência de todos os fenômenos e a instabilidade das seis condições da vida desde o estado de Inferno até o de Tranqüilidade, ou os Seis Caminhos. Mesmo apesar de a pessoa objetivar os Quatro Nobres Estados (do estado de Erudição ao estado de Buda), isso não significa separar-se das seis condições inferiores. Os estados de Erudição, Absorção, Bodhisattva e Buda indicam o desejo e os esforços para reformar a si próprio ao mesmo tempo em que vive em uma sociedade e em uma civilização cheias de sofrimento e da maldade dos Seis Caminhos. Portanto, não são somente os eruditos as pessoas que se encontram no estado de Erudição; e os que estão no estado de Absorção não se limitam aos artistas, filósofos, etc. Ao sentirem satisfação com a simples busca da verdade na sociedade e nos fenômenos naturais, até mesmo os eruditos podem experimentar o estado de Alegria. Isso também é verdadeiro para os filósofos ou artistas. Quando os artistas sentem satisfação na busca da beleza, estão experimentando o estado de Alegria. No entanto, quando ao buscarem a erudição ou a arte eles visualizam as profundezas de sua própria vida e procuram compreender sua vida interior, estão experimentando o estado de Erudição ou de Absorção. Dessa forma, essas duas condições podem ser egoístas e limitadas, uma vez que estão voltados apenas para seu próprio aprimoramento e perfeição. Porém, quando, por meio da busca da arte e do aprendizado, os eruditos e artistas devotam-se a ajudar as outras pessoas a superarem seu sofrimento, dando-lhes coragem para viver e possibilitando-lhes que experimentem a alegria da vida, estão na verdade no estado de Bodhisattva.
5) As quatro características básicas do estado de Buda são representadas pelos quatro líderes dos Bodhisattvas da Terra — os Bodhisattvas Jogyo (Prática Superior), Muhengyo (Prática Ilimitada), Jyogyo (Prática Pura) e Anryugyo (Prática Firme). Ou seja, esses quatro bodhisattvas correspondem às Quatro Virtudes — Verdadeira Identidade, Eternidade, Pureza e Felicidade. A virtude de Jogyo pode ser considerada como a integridade absoluta e indestrutível do próprio ser. O Bodhisattva Muhengyo representa o estado de ilimitada liberdade por toda a eternidade. Jyogyo indica a absoluta pureza da vida em que a maldade ou a natureza egoísta é levada para um estado latente e inexpressivo. Anryugyo representa uma vida feliz e agradável de total realização.
Nitiren Daishonin é o Buda original iluminado eternamente para a verdade máxima ou Lei Mística desde o infinito passado de Kuon Ganjo. No entanto, sua atitude era a do Bodhisattva Jogyo, o líder dos Bodhisattvas da Terra. Num sentido mais amplo, todas as pessoas que praticam com firme fé o Budismo Nitiren agem como os Bodhisattvas da Terra, mas na realidade são filhas do Buda.



A unicidade da pessoa e seu meio ambiente


A relação entre a vida humana e seu ambiente é explicada em termos de Esho Funi, ou a Unicidade da Vida e seu Ambiente. Esho é a contração dos termos em japonês eho e shoho. Eho indica o ambiente insensível, ou mundo objetivo, e Shoho, a personalidade ativa, ou mundo subjetivo. A sílaba ho significa o efeito manifesto, ou os resultados do carma. Os efeitos do carma de um ser vivo manifestam-se tanto em sua vida subjetiva com em seu ambiente objetivo.

Uma vez que funi significa “dois no fenômeno, mas não dois na essência”, Esho Funi quer dizer que a vida e seu ambiente são dois fenômenos distintos, mas apenas um em sua essência. As pessoas e seu ambiente são inseparáveis, mas Esho Funi como conceito vai além de indicar apenas a relação inseparável entre ambos.
Muitas pessoas sentem hoje como se não estivessem em equilíbrio com seu meio ambiente, o que parece simplesmente resultar em infelicidade. Mas foi a humanidade que seguiu contra o ritmo do mundo natural, poluindo-o e causando uma crise que começou a manifestar suas conseqüências no meio ambiente. A Unicidade da Vida e seu Ambiente é um princípio que sugere como as pessoas podem influenciar e reformar seu ambiente por intermédio de uma mudança interior, ou a elevação de seu estado de vida. Nesse princípio está contida a idéia de que assim como o ambiente influencia o indivíduo, este também pode causar uma mudança no ambiente.

O ideal é que os seres humanos vivam em harmonia com seu meio ambiente. A pessoa cria sua própria existência única de acordo com as leis da individualização e forma um ambiente único que seja compatível com ela. Mas a formação do ambiente deve coincidir com o surgimento da vida neste mundo; uma pessoa não pode surgir simplesmente flutuando no espaço, sem um ambiente. Cada um de nós tem um ambiente e, no entanto, cada um é essencialmente distinto. Portanto, todos nos relacionamos com nosso ambiente de modo diferente. A maneira como vemos o ambiente difere dependendo de nosso estado de vida e de nossas circunstâncias.

O meio ambiente é um reflexo da vida interior do indivíduo que nele habita. Esse ambiente assume as características que estão de acordo com a condição de vida do indivíduo em questão. Em outras palavras, a vida estende sua influência ao seu redor.

O princípio de Itinen Sanzen inclui a Unicidade da Vida e seu Ambiente. De acordo com os Três Domínios da Individualização da Vida, Shoho corresponde aos Cinco Componentes e ao Ambiente Social e Eho, ao Ambiente Natural. A consciência do ser vivo pode ser descrita como Shoho e os outros quatro dos Cinco Componentes — Forma ou corpo, Percepção, Concepção e Volição — existem para fazer com que o indivíduo interaja com outros seres vivos e com o ambiente natural, que juntos formam o eho. O Itinen Sanzen revela que tanto o Shoho como o Eho são inerentes num único momento da vida. O budismo considera que a vida abrange uma vasta extensão de influência e de atividade que integram tanto os seres vivos como seu ambiente.

A vida sem começo e sem fim


A visão da eternidade da vida não é com certeza única do budismo, mas amplamente aceita entre muitas antigas religiões indianas. O budismo revelou a Lei de Causa e Efeito que atua por todos os lados desse eterno fluxo da vida. Porém, essa visão ainda se baseia no fatalismo ou no determinismo e praticamente nega a existência do livre arbítrio. Aprofundando ainda mais na lei da causalidade, o Sutra de Lótus ensinava que as pessoas possuem um poder inerente com o qual podem desafiar o destino e romper as correntes.

As causas cometidas no passado produzem no presente os efeitos correspondentes e as ações do presente formam por sua vez o futuro da pessoa. Porém, uma vez que a vida da pessoa neste mundo está predestinada como conseqüência das causas passadas, não se pode mudar o destino para melhor. Sem voltar para o passado e transformar essas causas, nada há a fazer a não ser conformar-se com as circunstâncias do presente. Mas é impossível repetir o passado e, portanto, mudar o presente. Essa é a visão comum do destino.

Em contraste, o Sutra de Lótus esclareceu a realidade da vida eterna e imutável que existe independentemente do carma criado de acordo com a lei da causalidade e ensinou que é possível mudar o destino da pessoa e também o futuro fazendo essa vida aflorar. Para que as pessoas compreendessem isso, o Sutra de Lótus esclareceu o sistema pelo qual a vida e a lei funcionam apresentando uma análise detalhada da vida.

O conceito da eternidade da vida não pode ser compreendido com facilidade pelas pessoas da época atual, apesar de ter sido parte integrante das antigas religiões indianas. Essa é uma das questões mais controversas. Além do mais, é praticamente impossível comprovar cientificamente a eternidade da vida. Se os cientistas quiserem analisar o estado em que a vida continua após a morte, deverão primeiro compreender o que a vida realmente é. Mas ainda não há nenhum método científico para compreender a qualidade essencial da própria vida.

É necessário julgar as hipóteses religiosas e verificar como elas explicam o fenômeno da vida, que parece ser inexplicável à limitada inteligência humana. O conceito budista de que a vida é eterna e que, no entanto, passa por constantes transformações de uma forma para outra é a explicação mais lógica para justificar as diferenças entre os vários destinos dos seres humanos desde o momento do nascimento. As pessoas nascem em diferentes condições e circunstâncias, e devem transformá-las se quiserem alcançar a felicidade. Se uma existência anterior não tiver sido postulada para uma pessoa viva no presente, o destino ou carma dessa pessoa deve ser atribuído a outro ser absoluto e sobrenatural, ou ao puro acaso. A hereditariedade não é a única responsável pelas diferenças individuais, pois diferenças existem até mesmo entre filhos dos mesmos pais. Concluindo, a explicação mais razoável diz que a vida continua eternamente, dependendo da lei do carma ou de causa e efeito que opera no passado, no presente e no futuro.

Vida Diária


Deus e Buda


As religiões do mundo variam de acordo com as diferenças entre as nações e as culturas. No entanto, a origem da religião pode ser encontrada em sentimentos compartilhados por todas as pessoas. A mais primitiva forma de religião era a adoração de um deus ou deuses que representavam as forças da natureza. Enquanto a natureza passava por uma mudança “normal” e previsível, os seres humanos podiam desfrutar sua força criativa e benefícios. Porém, quando o ritmo da natureza tornou-se imprevisível, as pessoas não tinham mais lugar para aonde ir. Os povos antigos acreditavam que as calamidades naturais eram uma expressão da ira dos deuses ou obra de um deus diabólico e destrutivo que se opunha ao seu deus benevolente. Graças a uma contínua especulação, alguns postularam um deus principal que reinava sobre todos os outros e controlava todos os vários fenômenos naturais. Em muitos casos, o deus principal originariamente governava um fenômeno específico. Por exemplo, nas mitologias grega e nórdica, o deus principal era originariamente o deus do trovão.

Diz-se o mesmo a respeito de Javé ou Jeová. Javé era originariamente o deus do trovão e tornou-se posteriormente o deus principal dos ancestrais dos hebreus. Conseqüentemente, ele foi considerado um deus absoluto e transcendental pelos judeus e por fim o único deus, e seus seguidores passaram a negar a existência de qualquer outro deus. Foi isso o que levou à crença de que a vontade e as palavras de Deus criaram o Universo e todos os seres que nele vivem. Seja um único deus apenas ou muitos, acreditava-se que a divindade, ou as divindades, tinham poder de controle sobre a natureza e a humanidade. Com o estabelecimento de comunidades, alguns deuses tornaram-se símbolos do poder ou da supremacia de grupos específicos, sendo usados para fortalecer a autoridade do grupo.

Em contraste, um Buda é um ser humano, uma pessoa que desenvolveu uma sabedoria introspectiva nas profundezas de sua vida e descobriu nela a verdade eterna. Ao passo que no cristianismo um ser humano nunca pode tornar-se completamente Deus, no budismo o ser humano pode tornar-se um Buda. O estado de Buda é um ideal, mas um ideal que os seres humanos podem atingir. O budismo é um conjunto de ensinos que o Buda expôs a fim de capacitar todas as pessoas a também se tornarem budas. Ensina que o estado de Buda é o objetivo máximo para todos os seres humanos; no entanto, não nega nem exclui o conceito de um deus por si. O que caracteriza o Buda é a sabedoria que permeia a verdade máxima da vida e do Universo. O budismo descreve os deuses como forças benéficas inatas no meio social e natural e que atuam protegendo os seres humanos, especialmente aqueles que praticam o budismo corretamente. As forças inerentes ao meio ambiente são chamadas “boa sorte”, as ações dos deuses budistas que as pessoas ativam para extraírem sua própria sabedoria do Buda.

Uma comparação entre o budismo e o cristianismo


O cristianismo expõe o ideal do amor por toda a humanidade, especialmente pelos menos afortunados e infelizes. O amor cristão tem muito em comum com a compaixão budista. Por causa de seu amor, Jesus de Nazaré é comparável a um bodhisattva. No que diz respeito ao seu amor universal, o cristianismo está mais próximo dos ideais do budismo do que do judaísmo.

Há duas correntes históricas do budismo — a do norte e a do sul. A primeira originou-se na região norte da Índia, propagando-se então através da Ásia Central pela China, indo até a Coréia e chegando finalmente ao Japão, ao passo que o budismo do sul encontrou seu caminho até o Ceilão (Sri Lanka), Mainmá e Indochina. Essas duas correntes também são conhecidas como Budismo Mahayana e Budismo Hinayana.

Muito pouco se conhece sobre a propagação budista no ocidente. No entanto, alguns registros históricos comprovam que o Rei Asoka da Índia enviou mensageiros budistas para lugares tão distantes quanto a Grécia. Alguns eruditos ocidentais crêem haver alguma influência budista no cristianismo.

Alguns teólogos cristãos modernos interpretam Deus não com um aspecto humano, mas sim como uma “lei”, imaterial e universal, que influencia os fenômenos em todo o Universo. Esta visão tem muito em comum com os conceitos budistas, e o fato de ter-se desenvolvido indica que pode ter alguma ligação profunda entre as duas correntes de pensamento.

Esta possibilidade ainda aguarda para ser provada objetivamente, mas a semelhança dos ensinos das duas religiões é importante. Por exemplo, o reino de Deus é surpreendentemente similar à descrição do Paraíso Ocidental nos ensinos mahayanas provisórios expostos antes do Sutra de Lótus. Além disso, os ensinos e mandamentos cristãos parecem igualmente descrever o modo como um bodhisattva ocidental deve viver.


A relação entre filosofia e religião


Francis M. Cornford, professor de Cambridge, e também outros historiadores ocidentais da filosofia, demonstraram como a filosofia originou-se da religião na Grécia antiga. Por trás das idéias de Sócrates, Platão e Pitágoras estavam as doutrinas de suas religiões. Da mesma forma, a filosofia ocidental começou a se desenvolver a partir da teologia cristã no final da Idade Média.

Os mitos, rituais e ensinos transmitidos desde épocas antigas representam a intuição ou discernimento das pessoas. Aqueles que acreditavam que havia uma verdade neles tentavam colocá-los em prática. Essa é a origem da religião. Em contraste, a filosofia desenvolveu-se graças aos esforços para lançar uma nova luz sobre essas verdades, sistematizá-las e descobrir novas verdades por meio de sua própria metodologia. Desde muito cedo, os filósofos tentavam encontrar uma verdade universal e total e que fosse inerente em todos os fenômenos, e então seus conceitos tornaram-se gradativamente mais complexos com uma nova preocupação com o que estava ao seu redor. Talvez estimulados pelo desenvolvimento das ciências naturais, e também estimulando-as, alguns filósofos concentraram-se em tentar compreender as verdades parciais do mundo fenomenal. Num certo sentido, a ciência é filha da filosofia e neta da religião.

No entanto, a ciência e a religião ocupam-se com as diferentes dimensões da vida. As antigas religiões consideravam os fenômenos naturais e sociais como manifestações da sabedoria e da vontade de um deus. Mas, com o avanço da ciência, suas doutrinas provaram-se inválidas em sua busca da natureza e das questões humanas, e foram sendo descartadas à medida que se tornavam ineficazes em explicar os verdadeiros fenômenos do Universo.

Na Índia antiga, a ciência e a filosofia desenvolveram-se simultaneamente. Foi nesse ambiente que surgiu o budismo. A verdade compreendida intuitivamente pelo Buda Sakyamuni não representa a totalidade do budismo. O Buda e seus seguidores explicaram a verdade sob vários ângulos e deram-lhe uma base sistemática e filosófica. Foi assim que o budismo estabeleceu-se formalmente como uma religião. Nitiren Daishonin, o Buda dos Últimos Dias da Lei, consolidou a iluminação de Sakyamuni e completou o sistema de filosofia e prática exposto pelo budismo.

A compatibilidade de ciência e religião


A ciência e a religião foram por muito tempo consideradas incompatíveis no Ocidente. Isso causou várias e sérias disputas, especialmente no início da era cristã. O budismo faz-se ainda mais impressionante quando torna-se aparente que ele não apresenta nenhuma contradição ao fato científico. Isso se deve em parte porque o domínio em que o budismo se abre e faz suas elucidações é completamente diferente da dimensão da ciência.

A ciência investiga o mundo fenomenal onde o homem vive e atua, lidando com os aspectos objetivamente perceptíveis da existência. O aspecto material é apenas parte da realidade, mas os fenômenos físicos são os mais acessíveis a uma mensuração e a uma correlação objetivas. Por essa razão, as ciências naturais se desenvolveram antes que os outros campos da ciência. Os fenômenos sociais foram estudados e examinados, o que resultou no desenvolvimento das ciências sociais. No final do século XIX, as questões humanas tornaram-se um importante objeto de estudo e, posteriormente, resultaram num grande avanço das ciências culturais. Indo mais além, o estudo da mente humana progrediu da superstição e da suposição para o fato comprovável e a teoria fundamentada.

Os domínios daquilo que chamamos de “ciência” estão se ampliando gradativamente, mas uma vez que o “método científico” baseia-se na observação metódica e científica e no raciocínio, é limitado pela sua própria natureza. Há esferas que estão fora do alcance da cognição científica. Essas esferas podem ser compreendidas, mesmo que de algum modo, apenas pela mente intuitiva e subjetiva. Esse método é mais freqüentemente aplicado ao fenômeno social do que à natureza, e mais ao estudo da mente humana do que ao da sociedade. O budismo elucida as verdades com base nas capacidades subjetivas das pessoas, extraindo assim a sabedoria prática da vida.

Em sua busca da verdade, a ciência aproxima-se principalmente do raciocínio analítico e indutivo, ao passo que o raciocínio budista é um método global de dedução e intuição.

Para conduzir uma vida melhor, a cognição objetiva é necessária mas não totalmente eficaz. A ciência desempenha um poderoso papel na cognição objetiva, mas a eficácia com que esse método é utilizado para melhorar a vida das pessoas é decidida pelo grau em que os indivíduos são despertados para a verdade que se encontra nas profundezas de sua vida. É essa a verdade que o budismo elucida. Neste sentido, a ciência e a religião realmente se complementam. Nas palavras de Einstein: “A religião sem ciência é cega; e a ciência sem religião é incompleta.”